À Descoberta da Provença

Das ‘calanques’ aos campos de lavanda
2019-06-08 - 2019-06-16

 




Regressando à França mediterrânica

Dando continuidade à
actividade realizada na Côte d’Azur no ano de 2015, o CAAL vem agora propor um
regresso à
França mediterrânica visando
explorar uma área costeira mais a leste, entre Hyeres e o rio Ródano - parte
integrante dos distritos do
Var e
das
Bouches du Rhône - ou seja o
território que constitui
o coração
histórico e cultural do antigo reino da Provença
, reconhecidamente uma das mais belas regiões da Europa.

 

Sobre
a Provença

O seu nome advém de ter sido,
cronologicamente, a primeira ‘Província
Romana’
. A sua identidade cultural resulta de seis séculos de história medieval
teimosamente distinta da das grandes potências circundantes, num longo papel de
estado tampão (numa primeira fase entre francos e catalães, mais tarde entre guelfos
e gibelinos), independente mas sempre
permeável a influências de outras margens
mais ou menos distantes, na mais
pura tradição mediterrânica.

Do património construído a
descobrir nesta actividade ressaltam os legados romanos – com destaque para o anfiteatro de Arles e a fabulosa ponte do
Gard
(ambos classificados como Património Mundial); a multimilenar cidade de Marselha; a abadia medieval
cisterciense de
Senanques e Aix-en-Provence, a capital histórica da
Provença.

No que toca ao património
natural teremos o icónico Parque
Nacional das Calanques
; o frequentemente ignorado Parque Nacional de Port-Cros, ‘apenas’ o segundo mais antigo de
França; o Parque Natural do Luberon;
o Parque Natural da Sainte Baume e a
reserva natural da montanha de Sainte-Victoire.

 

Sanary-sur-Mer

É
a localidade que nos vai acolher durante toda a actividade
.
Como muitas congéneres - mais ou menos badaladas - do litoral sul de França,
trata-se de uma antiga vilória de pescadores convertida em densa estância de
turismo balnear e de aposentação. Situada
a 12km da cidade de Toulon
, é um dos locais mais solarengos de França
(apenas 61 dias chuvosos por ano), embora seja frequentemente sujeita ao famoso
mistral, nortada forte, fria e seca, característica de toda esta costa.

A exemplo de Vence, a nossa
base de 2015, também Sanary foi terra de
acolhimento e/ou passagem de artistas incontornáveis do século XX
, mas
agora com claro relevo para a literatura. Numa primeira fase, na década de
1920, destacam-se os autores ingleses (por exemplo, Aldous Huxley escreveu ‘Brave New World’ em Sanary). Mas após 1933
forma-se uma notável comunidade intelectual de exilados germânicos – muitos de
origem judaica – buscando refúgio da brutalidade nazi, os quais, como escreveu mais
tarde um deles (L. Marcuse), viviam
no paraíso contrariados. No entanto, a sua presença é relativamente
desconhecida do grande público, em parte porque no caso dos nomes mais sonantes
– como Thomas Mann, Stefan Zweig ou Bertold Brecht – a Provença seria apenas um ponto de passagem em
exílios mais ou menos labirínticos.

Sanary
está também ligada à história da oceanografia
. Foi lá que Jacques Cousteau desenvolveu e testou
as inovações técnicas, ao nível do mergulho autónomo, que possibilitariam a sua
notável obra nos domínios da divulgação e preservação do mundo submarino.

 

Randonneurs
Sanaryens

O
CAAL vai ter um anfitrião na Provença
. Esta actividade foi
preparada em estreita articulação com os Randonneurs
Sanaryens, clube local de pedestrianismo
que, numa lógica de voluntariado, assumiu
a escolha dos percursos a efectuar e nos vai acompanhar nas caminhadas,
contribuindo com o seu conhecimento do terreno para a nossa descoberta provençal.

 

Programa
indicativo

 

Sábado,
dia 8 de junho
-
De Lisboa a Sanary-sur-Mer

Comparência matinal no
aeroporto de Lisboa e voo TAP directo a
Marselha
. Transfer de autocarro com destino a Sanary-sur-Mer. Tempo livre para explorar a localidade balnear.
Neste fim de semana está previsto decorrer o festival primaveril ‘Floralies’, pelo que a terra deverá estar
particularmente engalanada para a nossa recepção…

Instalação no alojamento.

 

Domingo,
dia 9
- Marselha

Dia dedicado à visita livre da cidade de Marselha. A helénica ‘Massalia foi fundada, tal como ‘Velia’ (Lembram-se?
Foi visitada pelo CAAL nos Caminhos do Mediterrâneo I…) por colonos oriundos da
cidade de Phokaia (litoral da
Anatólia), por volta de 600a.C. Desde sempre uma cidade de vocação portuária, Marselha continua a girar em torno do seu
porto comercial (o maior de França - 45.000 empregos directos), o qual suporta,
entre outros, um estratégico ‘hub’ petrolífero
e o sector do turismo (quase 5 milhões de passageiros desembarcados por ano,
20% dos quais por navios de cruzeiro).

Por natureza uma cidade multicultural complexa e nada
isenta de problemas sociais, Marselha é um puzzle em que as peças oriundas de
Itália (quase 40% da população com raízes transalpinas…), da Córsega, do
Magreb, do arquipélago das Comores ou da Arménia facilmente podem fazer olvidar
que estamos perante a segunda maior
cidade de França
. O antigo porto
- hoje convertido em marina de recreio e mercado piscatório - e o notável Museu do Mediterrâneo (MuCEM) são
visitas obrigatórias
. De igual forma um verdadeiro almoço livre marselhês
deverá prever a incontornável ‘bouillabaisse’ (caldo de peixe).

 

Segunda,
dia 10
- Parque Nacional das Calanques

Em geomorfologia uma ‘calanque’ (‘calanca em provençal, corso e italiano, ‘cala’
em catalão) é um vale estreito e
profundo de paredes abruptas, parcialmente submerso pelo mar e assim
transformado em enseada
. É própria de regiões cársicas onde ocorra
inicialmente erosão fluvial e mais tarde subida das águas do mar (e desta forma
uma parente próxima dos ‘fjords’
escandinavos e das rias galegas
). O Parque Nacional protege uma
espectacular faixa litoral selvagem, fortemente recortada, em que a montanha
desce até ao mar. Tem uma extensão de cerca de 20km, desde os subúrbios de Marselha até à famosa aldeia vinícola de Cassis.
A paisagem conjuga harmoniosamente escarpas desprovidas de solo com manchas de
típica vegetação mediterrânica (‘maquis’) e o azul do mar. O trilho GR51
atravessa o parque, à descoberta de lugares mágicos, como a calanque de
Sugiton. Há quem chame às ‘calanques’ os
‘fjords do sul’….

 

Terça,
dia 11 -
Arles e a ponte
do Gard

Dia grande para os
apreciadores do legado da antiguidade clássica. Sobre Arles, cidade milenar na margem esquerda do Ródano, bastará citar a
declaração oficial da UNESCO:

“Arles proporciona um
exemplo notável de adaptação duma cidade antiga à civilização da Europa
medieval. Conserva monumentos romanos
impressionantes
dos quais os mais antigos – arenas, teatro antigo e criptopórticos – remontam ao primeiro
século a.C. Conheceu no século IV uma segunda idade dourada, da qual as termas de Constantino e a necrópole
são testemunhos. Nos séculos XI e XII Arles voltou a ser uma das mais belas cidades do mundo mediterrânico. No interior das
suas muralhas, S.Trophime é um dos
monumentos maiores da arte românica provençal
”.

E, já agora, acrescente-se o
nome de Vincent van Gogh (com mais
de 300 obras pintadas em Arles).

Quanto à ponte do Gard, é uma das mais prodigiosas
obras da engenharia romana
. Trata-se de uma ponte aqueduto sobre o rio
homónimo, parte do sistema de abastecimento de água à cidade de Nîmes.
Construído em três níveis, é o mais alto
de todos os aquedutos romanos (48m)
e apresenta um estado de conservação
excepcional. Para além do seu impacto visual, a obra impressiona pela sua
mestria técnica (apenas 2.5cm de desnível entre as duas margens…).

O dia será constituído pela
visita a Arles - livre, mas incluindo a entrada no anfiteatro romano - e um percurso pedestre na zona da ponte.

 

Quarta,
dia 12
- Parque Nacional de Port - Cros - Ilha de
Porquerolles

É seguramente o menos
conhecido dos parques nacionais franceses, apesar de ter sido o primeiro do mundo a conjugar a
preservação de territórios terrestres e marinhos
. Abrange três das ilhas do
arquipélago costeiro de Hyeres, improvavelmente salvas da invasão imobiliária
que assolou a maior parte da região, e que actualmente são, no essencial,
propriedade pública. Dedicaremos o dia á
exploração da ilha de Porquerolles
, a única acessível aos visitantes - por
via marítima a partir do porto de Hyeres. Porquerolles tem 7.5km de longo e
alberga belas praias. Será uma espécie de viagem no tempo, à procura do
Mediterrâneo de antanho, anterior à era da massificação.

 

Quinta,
dia 13 -
Maciço de Sainte
Victoire

A montanha de Sainte Victoire (Mont Venturi
em provençal), é uma colossal crista
calcária sobranceira a Aix-en-Provence
, com cerca de 18km de extensão e
mais de 1000m de cota máxima, parte da qual classificada como reserva natural e
integrando a rede europeia Natura 2000. Elemento maior da paisagem provençal, é
um destino de eleição para praticantes de desportos de natureza. É indissociável da figura do grande pintor
Paul Cézanne, nascido e falecido em
Aix, figura chave da transição do impressionismo para o cubismo, ou seja, da
pintura do séc. XIX para a do séc. XX (Matisse,
falando em nome da sua geração, chamava-lhe o ‘pai de nós todos’…
). Durante
as décadas finais da sua vida, Cézanne pintou Sainte Victoire de forma quase
obsessiva, tendo legado mais de oitenta obras em que ela figura. Muito mais
tarde, também Picasso viveu no sopé
desta montanha
, e lá escolheu ser enterrado, em Vauvenargues.

O nosso objectivo neste dia
não será a famosa travessia do GR9 – um exigente percurso de montanha pelos
cumes da crista – mas sim explorar a
chamada
rota Cézanne, com a
montanha em pano de fundo, em busca das paisagens que fascinaram o pintor, e
das ‘bergeries’ a que recorria nas suas itinerâncias.

 

Sexta, dia 14 - Parque Natural do Luberon

O
Luberon é um maciço (pouco) montanhoso
que marca a transição entre
os distritos do litoral da Provença e os do ‘hinterland’ mais a norte,
nomeadamente o da Vaucluse. A
topografia é variada, gerando uma ampla gama de microclimas, ecossistemas e
actividades agro-económicas associadas, que levaram à criação de um vasto
parque natural, classificado pela UNESCO como reserva da biosfera. A imagem de marca do parque é os campos de
lavanda em flor
.

 O cultivo da lavanda,
historicamente um símbolo regional, está hoje em queda na Provença, por força
da globalização da produção (tornada possível pelo desenvolvimento artificial
de variedades resistentes a condições ambientais outrora impensáveis). As zonas em que melhor prevalece são
precisamente as médias altitudes da Vaucluse
, cujas condições ideais
permitem uma qualidade de excepção. O
campo de lavanda mais fotografado é sem dúvida o que enquadra a abadia medieval
de Senanques
, esmeradamente mantido pelos seus monges, num misto de
agricultura e jardinagem paisagística. Senanques
- que iremos visitar - é uma edificação cisterciense do séc. XII, em estilo
românico, que conjuga harmoniosamente beleza e sobriedade. Situa-se perto da
famosa ‘village perchée’ de Gordes, tida
como uma das mais belas aldeias de França
. Embora não haja garantias, é
legítimo ambicionar que a data de realização da actividade coincida com a
floração da lavanda.

A
caminhada do dia
terá lugar perto de Rustrel, numa zona mais
oriental do parque conhecida popularmente por ‘Colorado Provençal’, caracterizada por uma estranha paisagem
seminatural de antigas extrações de argila rica em glauconite, destinada à produção de ocre. As argilas de Rustrel davam origem a 24 pigmentos naturais distintos,
consoante a camada explorada
. A paisagem conjuga todo esse cromatismo com
uma envolvente verdejante e ainda uma panóplia de formas bizarras resultantes
da antiga actividade extractiva, abandonada faz algumas décadas (por força da
concorrência dos novos corantes sintéticos).

O ‘Sentier Ocre’ – GR6 – atravessa os cerca de 30 hectares do
geomonumento.

 

Sábado,
dia 15
- Reserva Natural da Sainte Baume

Em provençal ‘Bauma’
significa gruta. O maciço da Sainte
Baume
, importante relevo calcário que separa os distritos do Var e das
Bouches do Rhone, deve o seu nome à
presença de uma gruta
que durante a Idade Média foi local de peregrinação
de enorme relevo, associada ao culto de Santa Madalena. Segundo a tradição
popular da região, a bíblica pecadora teria fugido da Palestina, dado à costa
na Provença e vivido trinta anos nessa gruta, sendo enterrada na cripta de uma
velha igreja próxima. Conhecedor da lenda, o rei Carlos II (final do séc. XIII)
ordenou escavações no local, tendo obviamente encontrado ossadas humanas (e até
um conveniente pergaminho ‘explicativo’! …), que tratou de certificar junto do
poder papal, num paradigmático caso de ‘inventio reliquarum’.Foi de tal forma
bem sucedido que ainda hoje não falta por lá gente a adorar uma velha tíbia…

Mitos ingénuos à parte, Sainte Baume é notável pela sua
extraordinária floresta primária
, num registo de transição entre o
mediterrânico e o alpino, em que se destaca a população de faias centenárias. A preservação dessa flora riquíssima justificou
a constituição, muito recente, da reserva natural, lugar de eleição para percursos pedestres.

 

Domingo,
dia 16 - Aix-en-Provence

Manhã dedicada à descoberta
da antiga capital da Provença, a terra
de Cézanne e de Zola
. Desde sempre uma localidade termal, ‘Aquis in
Provincia’ é uma fundação romana, pensada para fornecer protecção à helénica ‘Massalia’, contra inimigos comuns nativos
sediados mais a norte. Promovida a capital da Provença apenas no século XII
(sucedendo a Arles e a Avignon), Aix
teria a sua idade de ouro no século XV
, nas décadas que antecederam a
anexação francesa.

Cidade que vale mais pelo
seu conjunto arquitectónico do que por monumentos singulares, Aix convida à deambulação sem rumo definido
e tem, como pontos a não perder, o recheio da sua catedral – nomeadamente o tríptico do rei René e o sarcófago dito
de São Mítrio – e o notável museu Granet,
cuja colecção artística vai de Rembrandt a Picasso, passando por Rubens e,
claro, muito Cézanne.

Após o almoço livre, seguiremos para o aeroporto de Marselha para voar para Lisboa, com horário de chegada previsto
para o final do dia.

 

Características
dos percursos pedestres

Como foi referido, a escolha
dos itinerários cabe aos praticantes do clube local - melhor habilitados que
ninguém para esse efeito - pelo que a organização CAAL não domina os detalhes
dos percursos a efectuar. Apenas podemos afirmar que, de segunda a sábado, haverá um percurso diário escolhido entre as rotas
clássicas mais representativas da respectiva zona.
Segundo os Randonneurs Sanaryens
- que avaliam o grau de dificuldade numa escala de um a cinco - a maior parte dos percursos será de nível 2,
sendo o da ponte do Gard de nível 1, e um ou outro de nível 3 (nomeadamente o
do maciço de Sainte Victoire), admitindo-se a possibilidade de ajustamentos de
acordo com as características do grupo.

 

Alojamento
e Alimentação

A nossa base em
Sanary-sur-Mer será o Centre Azur -
http://centre-azur.fr/ -
com condições de conforto equiparáveis a
pousada de juventude
. Alojamento em quartos
de três ou quatro camas com casa de banho
. As instalações localizam-se a
distância pedonal do centro de
Sanary e da praia.

Regime de pensão completa nos dias de caminhada,
com fornecimento de almoços tipo picnic.
Apenas não estão incluídos 3 almoços, referentes aos dias de viagem (8 e 16 de junho)
e ao dia da visita a Marselha (9 de junho).

 

A
ter em conta

À data do lançamento desta
actividade, e devido à forte procura, o Clube ainda não conseguiu assegurar
alojamento para todo o grupo no que toca à noite do dia de chegada (sábado, 8
de junho). A situação poderá ser resolvida nos próximos meses, mas neste
momento existe a possibilidade de alguns
participantes passarem essa primeira
noite
nas residências particulares dos nossos anfitriões locais e da
organização CAAL, amavelmente disponibilizadas para o efeito.

 

Opção
de alojamento por conta própria

Os participantes
interessados em usufruir de quartos duplos ou individuais poderão optar por
assegurar, por conta própria,
alojamento no camping Mogador -
http://www.campasun-mogador.eu/ -
localizado a distância pedonal, sendo descontado no preço da actividade o valor
previsto para o Centre Azur.

As
refeições continuarão a ser tomadas com o grupo
, no
Centre Azur. O parque dispõe de bungalows
de diversas tipologias. Os interessados devem contactar o Clube.

 

Preço da actividade - 1155€

Plano
de pagamentos
- 7
prestações
de 165€ cada; uma no
acto de inscrição, as restantes mensais, de janeiro a junho.

 

O
preço inclui

Transporte aéreo Lisboa –
Marselha – Lisboa em voos directos da TAP; taxas de aeroporto e combustível no
montante previsto à data da orçamentação da actividade; um volume de bagagem de
porão (23kg); transporte terrestre e marítimo de acordo com o programa; 7+1
noites de alojamento em instalações tipo pousada de juventude (ver a secção ‘a
ter em conta’); alimentação de acordo com o referido no programa; guias
voluntários dos Randonneurs Sanaryens durante os percursos pedestres; seguro de
acidentes pessoais e assistência em viagem; gratificações e lembranças.

 

Inscrições

No dia 19 de dezembro, quarta feira, das
18 às 20 horas, na sede do Clube, de acordo com as regras de inscrição e
cancelamento habituais.

Inscrições limitadas (um
autocarro).