REPORTAGEM

ALPES 96 - MACIÇO DO MONTE BRANCO

Como estava programado, o CAAL marcou presença nos Alpes, entre os dias 8 e 15 de Junho de 1996.
E fê-lo através de 3 actividades paralelas, designadas por Grupos A, B e C, em que se procuraram desvendar de forma diversificada os muitos mistérios que encerra a Alta Montanha.

Grupo A - Ascensão do Monte Branco

17 sócios do C.A.A.L. empreenderam com êxito a ascensão ao Monte Branco, tendo atingido o cume (4807 m) na manhã do dia 13 de Junho de 1996.
Três dos sócios realizaram-no numa ascensão independente.

O Clube de Actividades de Ar Livre está de Parabéns!

O grupo realizou uma série de actividades tendo em vista a formação técnica e a aclimatação à altitude.
O programa iniciou-se com uma escola de gelo no glaciar do Mar de Gelo, a perto de 1900 m de altitude, onde o grupo tomou contacto ou aperfeiçoou as técnicas básicas de cramponagem e manejo do piolet, além de técnicas mais elaboradas, como os salvamentos em glaciar e a escalada em gelo.
Tendo decorrido com um tempo esplêndido, num cenário magnífico, e não exigindo esforços anormais, este dia foi um excelente aliciante para o que se seguiria.

E o que se seguiu mostrou ser bem mais duro.
Pois no dia seguinte, para forçar a aclimatação, empreendeu-se a ascensão do Monte Branco do Tacul, cujo cume se situa a 4187 m de altitude.
Partindo de Chamonix de teleférico, em direcção à Agulha do Midi uma subida muito rápida dos 1000 para os 3700 m, propícia ao aparecimento de problemas com a altitude- o grupo calçou os seus crampons e, dividido em cordadas de 2 ou 3 elementos, desceu por uma aresta de neve até à Vallée Blanche (alt. 3500 m), que percorreu até à base do seu objectivo.
As cordadas dispersaram-se então, à medida que a subida decorria.
Os últimos 100 metros da ascensão - sendo a parte final a mais difícil, por decorrer num misto de gelo e rocha - apenas foram percorridos por uma delas, que após atingir o cume e gozar por alguns minutos da paisagem, empreendeu a descida.
As restantes foram forçadas a retirar, uma vez que o cume ficou coberto por nuvens e que, terminando os teleféricos pelas 17H00, se arriscavam a não poder regressar a Chamonix antes da manhã seguinte.
A complicar este quadro de insucesso relativo houve que contar com as dificuldades da descida em neve mole onde se revelaram as limitações dos portugueses, pouco habituados a este elemento- resultando tudo num estado de grande fadiga em todos os elementos do grupo.
Não era agradável, nessa noite, a disposição do Grupo A, batido pela montanha, e a duvidar das suas capacidades físicas e técnicas.

A alta montanha tinha revelado pela primeira vez, a muitos dos participantes, o seu lado mais exigente.

Apesar de tudo, o dia seguinte correu bem, tendo-se ficado em Chamonix, onde se dedicaram várias horas à prática da escalada em rocha.
Assim se respondeu a diferentes necessidades:

No entanto, o dia não terminou sem nova tormenta.
Discutiu-se muito e por fim lá se chegou a um compromisso quanto à composição das cordadas.

Lá fomos então, no dia seguinte, em direcção ao refúgio dos Cosmiques, situado na Vallée Blanche.
Após uma breve 1/2 hora de caminho, arrumámos o material e fomos tentar dormir o mais possível, com uma interrupção para o jantar e muitas outras menores para irmos à casa de banho, já que procurávamos todos beber tanta água quanto possível, para facilitar a aclimatação.

01H00 da madrugada do dia 13: alvorada.
Pequeno-almoço, a apreensão nos rostos, por vezes disfarçada com uma piada.
Ao contrário do que contávamos ao sair de Portugal, íamos abordar o Monte Branco pela mais difícil das vias do lado francês, a Via dos Três Montes Brancos: extensa, com algumas dificuldades técnicas, fisicamente exigente.
Apenas superada por algumas das vias de escalada do lado italiano.
E lá fomos, por volta das 02H00.
À luz dos frontais, a vista era magnífica.
O primeiro obstáculo a ultrapassar seria o nosso conhecido Monte Branco do Tacul, onde ascenderíamos a perto de 4100 m.
Mas, desta vez, com a neve bem dura e cada um de nós melhor aclimatado, a dificuldade revelou-se mais fácil de ultrapassar.
Daí, a via desce para a Portela Maldita, a 4035 m, antes de abordar o mais temido: o Monte Maldito.
Há que subir até aos 4345 m, por uma íngreme parede de neve, antes de voltar a descer para a Portela da Brenva (4303 m).
Só então tem início a subida para o Monte Branco.
Subida dolorosa, pois a falta de oxigénio começa a fazer-se sentir, e além disso exis-tem dois ante-cimos, que reservam duas desagradáveis surpresas: o cume fica sempre mais acima.

A ascensão ao Monte Branco foi um êxito!


Finalmente chegámos.
4807 m de vista desimpedida.
Tudo está abaixo de nós.!

Neste dia o CAAL realizou uma proeza: dezassete dos seus membros atingiram o cume do Monte Branco, o ponto mais alto dos Alpes e da Europa Ocidental (três deles numa ascensão independente).

Proeza assinalável, tanto mais que, em média, a taxa de sucesso na ascensão não ultrapassa os 60% (e sobretudo pela via normal).

Pelo caminho, apenas um dos nossos companheiros se quedou na Brenva.
No regresso, o grupo dividiu-se: as primeiras cordadas regressaram pela mesma via, enquanto as últimas retiraram pela via normal, pernoitando no refúgio do Goûter e regressando no dia seguinte a Chamonix.
No mesmo dia, duas companheiras, tendo abdicado do Monte Branco, atingiram o cume da Torre Redonda (alt.3737 m), mas com uma apreciável dificuldade técnica.
Na sexta-feira, a encerrar a actividade, uma parte do grupo efectuou um pequeno percurso pedestre, complementado com um pouco de escalada em rocha, num magnífico cenário, em frente ao glaciar de Argentière.

Grupo B - Volta do Monte Branco


30 sócios do C.A.A.L., que voltaram com os olhos cheios das maravilhas dos Alpes, realizaram um grande passeio pedestre, já clássico, que joga ao salto de fronteiras, ao encontro das mais prestigiosas paisagens alpinas francesas, italianas e suíças.
Foram 80 km, em seis etapas, à volta do Maciço do Monte Branco!

Apesar da organização francesa ter alterado o programa inicialmente entregue aos participantes, a espectacularidade do passeio manteve-se, ajudada pela neve que encontrámos nas partes altas do percurso, por estarmos no final da Primavera.
Os vales, os colos, os cumes, os glaciares, acompanharam-nos todos os dias.
Fomos seguramente o primeiro grupo a empreender este ano a Volta ao Monte Branco.

Da fauna e da flora alpinas observámos alguns animais no seu habitat - marmotas, camurças e choucas (espécie de corvos de altitude, que já chegaram mesmo a ser observados no cume do Everest) -só não se tendo avistado qualquer exemplar do célebre dahut - e uma imensidão de flores - rododendros, mirtilos, junquilhos emorangueiros silvestres.
Devido à época do ano foi possível avistar os prados suíços cobertos de feno alto e flores, uma maravilha apenas observável nesta época do ano.
Alguns dias foram duros... também porque o calor se fez sentir.
Mas as experiências de fazer esqui sobre os pés ou sku sobre os vários névés constituíram momentos de grande brincadeira, para o que muito contribuíram os ensinamentos dos guias.

Ficou ainda assim por completar a volta, já que uma parte do troço francês não se realizou (seriam necessários 10 dias de marcha para efectuar a volta completa).
Fica aqui por isso o desafio: A Volta da Região do Monte Branco (diferente da Volta do Monte Branco), toda ela em França, cobre o troço em falta.
Quem a realizar por iniciativa própria poderá depois dar notícias.

Grupo C - Passeios no Maciço do Monte Branco


Foi o grupo menos participado com apenas 10 companheiros.
Contou com a colaboração de um guia extremamente simpático e atencioso, que soube adaptar a dificuldade de cada passeio às necessidades da maioria do grupo.
Foi possível assim, em cada dia, descobrir novas paisagens, especialmente a partir do lado NW do vale de Chamonix.

Talvez estas actividades tenham constituído um incentivo para novas aventuras.
A montanha, bela, perigosa, agreste, viva, é, acima de tudo, insidiosa, na sua capacidade de despertar paixões.
Os Alpes são algo de Amável. Insuspeitadamente...

Francisco, Berta, Luísa e Alexandre

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